Liderança Militar:
Nas ações, os traços de um grande líder
Vianney Júnior
Editor Internacional de Aeroespaço e Defesa
Próximo à Tropa, Sampaio conduziu o Brasil a inúmeras Vitórias
O 24 de maio celebra a data de nascimento do Patrono da Rainha das Armas. Em torno do dia, uma série de atividades enaltece o valor da Infantaria do Exército Brasileiro, destacando suas conquistas, vitórias, modernização e alto grau de adestramento e prontidão.
Grandes nomes despontam ao longo da história, na Arma para a qual os melhores são apenas bons, mas certamente nenhum representaria de forma mais completa as virtudes esperadas de um bom Infante, quanto o de Antônio de Sampaio.
Ao longo de sua trajetória, Sampaio viveu desde muito cedo, atendendo ao chamado de sua vocação, a essência mais pura do servir. Ascendeu na carreira galgando postos por merecimento graças a inúmeras demonstrações de bravura, tenacidade e inteligência. Foi Praça em 1830; Alferes em 1839; Tenente em 1839; Capitão em 1843; Major em 1852; Tenente-Coronel em 1855; Coronel em 1861 e Brigadeiro em 1865.
Coincidentemente, a data que representa o dia de seu nascimento também marcou o ápice de sua vida de guerreiro. No 24 de maio do ano de 1866, dava-se início a batalha que o conduziu ao sacrifício supremo pelo Brasil. Na Batalha de Tuiuti, lutada durante a maior guerra já ocorrida na América do Sul, a Guerra da Tríplice Aliança, o Brigadeiro Sampaio conduziu a 3ª Divisão de Infantaria, a Divisão Encouraçada, com determinação e reconhecida liderança inspiradora.
Durante um ataque, Sampaio, que sempre estava à frente de seus soldados, dando-lhes o exemplo e encorajando-os, foi ferido por duas vezes, e mostrando superação, patriotismo e bravura, enviou uma mensagem ao seu comandante:
"Diga ao General que estou cumprindo meu dever, mas como já recebi dois ferimentos e estou perdendo muito sangue, seria conveniente que me mandasse substituir."
Mal tinha terminado de escrever essa carta, fora atingido novamente, totalizando três ferimentos, sendo que após o último foi internado em estado grave, vindo a falecer a bordo do navio Eponina. (1)
Liderança de Ontem, de Hoje, de Sempre
Militares precisam formar verdadeiros chefes, capacitando-os como lideranças íntegras e efetivas. Sem liderança um chefe é um burocrata onde falta alma e sobra incompetência. O bom líder valoriza seu subordinado pois sabe que “a vontade dos soldados é três vezes mais importante que suas armas”.
Então, deixar essa poderosa arma tinindo e sempre carregada é o padrão aprimorado na liderança moderna, cujo objetivo, inspirado em exemplos como o de Sampaio, é fortalecer a coesão em torno do comprometimento com os valores e objetivos maiores da instituição. E isso, só pode ser atingido com o profundo envolvimento de cada subordinado preparado para ter semelhantes qualificações e motivação de seus chefes.
A disciplina moderna valoriza o respeito às iniciativas, direitos e dignidade do subordinado no esforço direcionado às missões. Missões são compartilhadas e junto aos subordinados se obtém sugestões e informações relevantes, embora ao chefe sempre caiba a decisão final, cuja implementação todos são mobilizados a colaborar com entusiasmo, mesmo quando tenham discordado dela. (2)
O Líder junto à Tropa
Poderia pesquisar vários feitos que merecessem citação. Certamente os encontraria a mancheias, mas permita-me o leitor descrever dois episódios relativamente recentes, aos quais tive a oportunidade de acompanhar de próximo:
– Durante a Operação São Francisco, no Complexo da Maré, visitava o General Araújo Lima (Sub Cmt COLOG) as tropas in loco. Ouvindo dos próprios soldados o ambiente enfrentado naquela missão, perguntou a um dos guerreiros ali presentes: “Companheiro, qual desejo você teria, para o melhor cumprimento da sua missão?”, ao que o soldado respondeu: “General, não somos daqui, portanto eu e meus companheiros de pelotão sentimos muito o clima. Não durante as patrulhas, mas, para dormir… Meu sonho é um ar condicionado!”. O General ouviu tudo. Retornando à Brasília, apresentou a demanda do humilde soldado ao General Farias (Cmt COLOG). Levantadas as condições e os custos abraçaram essa guerra. Um mês depois telefonava o General Araújo Lima ao mesmo soldado na Maré, perguntando se, com os recém instalados equipamentos condicionadores de ar, estava mais fácil cumprir a missão. Ouviu agradecimentos sinceros da praça em nome de seus companheiros.
– Quando ainda Comandante do COTER, o General Villas Bôas se dirigia à Fortaleza para o apronto da tropa (CCDA-FZ) às vésperas da Copa do Mundo. Viajava o líder do Comando de Operações Terrestres em avião comercial, advindo de outra capital-sede onde o evento internacional teria competições. O Comando da 10ª Região Militar havia preparado uma formatura massiva. O General Villas Bôas teria pouco tempo em terra, pois logo deveria seguir, igualmente de avião comercial, para outra capital-sede dos jogos.
A preparação da formatura se deu no pátio de movimento da Base Aérea de Fortaleza, e desde cedo a tropa ensaiava vibrando, à espera do Cmt do COTER. A noite começava a cair, e por atraso da companhia aérea, o General não chegava. Os militares ali formados já aguardavam a horas. Por fim, com muito atraso o avião chegou. O General desembarcou entre os passageiros do voo, e foi conduzido à Base Aérea. Lá chegando, preocupado com os militares que já o aguardavam desde sol alto, deu ordem para que permanecessem em suas posições, dispensando o desfile da tropa e as honras a ele destinadas. Agradeceu e falou aos seus comandados. Desceu do palanque e foi a cada fração, cumprimentando seus respectivos comandantes e interagindo com vários dos militares ali reunidos. Transmitiu de forma franca e aproximada a confiança que depositava no preparo de todos, ante a uma missão tão complexa: garantir a tranquila realização de um grande evento internacional em solo brasileiro.
O comentário entre as fileiras era de exclamação, pela surpresa de sentir a presença do General Cmt do COTER tão próximo entre eles. O sentimento percebido era de vibração. O resultado foi inspiração.
Conclusão
Ambas as missões aqui citadas foram cumpridas com envolvimento, participação e entusiasmo.
(1) http://portalsampaio.blogspot.com.br/2010_06_02_archive.html
(2) SILVA FILHO, José Vicente. Liderança Militar, Coluna de Domingo, O Vale. 9 março 2014
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